Ensaio Carro Elétrico: a primeira vez foi com um Tesla
Pelo Alentejo ao volante de um Tesla Model 3 Performance
A experiência em criança foram os carrinhos de choque ali para os lados de entrecampos, numa eletricidade que descia por um poste que tocava o teto, aprisionado numa gaiola de metal barulhenta 15 metros por 10 e com o cheiro característico dos curtos circuitos e da borracha gasta. Sem cinto de segurança e quando se escolhia o carrinho certo a eletricidade até permitia alguma velocidade, voltas e mais voltas, muitos toques, tudo num momento de diversão que fica para as memórias da vida.
autonews.pt @ 28-5-2019 21:26:51
Era só acelerar e alguns entravam no jogo para dar toques, outros queriam apenas mostrar a sua perícia em evitar os outros e outros queriam apenas impressionar a cara-metade e ouvir os gritinhos de surpresa e excitação. Todos ganhavam em diversão e sabia-se que quando se levantava o pé, o carro parava e possivelmente acabávamos por ser alvo de troça pelo receio do confronto.
Agora já crescido, e bem a sério, veio outra primeira vez e foi ao volante de um verdadeiro carro elétrico para andar na estrada.
E aconteceu que foi mesmo um Model 3 da Tesla na sua versão Perfomance. A recolha foi no El Corte Inglês em Lisboa logo bem pela manhã onde a marca fez as introduções essenciais. Para iniciar, a chave foi um cartão de cor negra com o logotipo da marca e que bastou encostar ao pilar do lado do condutor para se ouvir um “klank” discreto a indicar que o carro estava aberto. O passo seguinte foram os puxadores que em rigor não existem no sentido tradicional dos mesmos. Por razões aerodinâmicas a Tesla optou por um sistema de puxador embutido onde o polegar empurra e assim fazendo sobressair o puxador para o resto da mão abrir a porta.
Ao sentar no carro e olhar à volta nota-se que estamos num carro com uma proposta de interface máquina-humano completamente diferente: botões físicos no teto apenas dois, um para o quatro piscas e outro para a emergência, no volante apenas mais dois botões e ... mais nenhum. O tablier é de uma simplicidade e elegância. O mostrador à frente do volante também não está lá. No volante duas manetes, pois uma deve ser para o pisca e a outra para o cruise control. Bom e agora?
Alguém dizia que a proposta da Tesla é misturar um carro com um smartphone... assim basta “procurar” o telemóvel, que está ali bem no centro à direita do volante num ecrã generoso de 15 polegadas deitadas, para ver na horizontal tal como estão os nossos olhos. Uma visibilidade perfeita e na verdade está lá tudo, até os “botões” de que sentíamos falta no primeiro contacto.
A exemplo do que acontece quando recebemos um novo telemóvel, o passo seguinte foi perceber sofregamente o que havia naquele ecrã. Do lado esquerdo, o primeiro quarto do ecrã informa de forma permanente sobre o essencial de quem vai a conduzir: a velocidade a que circulamos, a localização na estrada, a posição relativa a outros veículos que estejam nas proximidades e a capacidade de energia e a autonomia do veículo. Tudo simples e essencial neste Model 3. E como falamos da usabilidade tudo o resto estão nos outros três quartos do ecrã: o mapa, a navegação, o interface para as chamadas telefónicas, a música, as características de conforto, a regulação da temperatura do carro, a regulação dos espelhos e até o abrir das malas, sim são duas, ou do porta-luvas. Na sua grande maioria colocadas num interface lógico e relativamente simples de menus que abrem para a direita.
Ah e já que falamos do “telemóvel”, em lugar do cartão de entrada a Tesla também lhe oferece uma aplicação para o smartphone que permite abrir o carro e até controlar algumas funções à distância. Imagine que pode preparar e programar o carregamento à distância, ligar o ar condicionado antes de chegar ao carro (acabou-se o forno no verão) e até tirar o carro do estacionamento sem colocar as mãos no volante. Um verdadeiro smartphone de topo de gama.
E a isto a Tesla acrescenta uma coisa que aparentemente apenas um punhado de fabricantes de automóveis também fazem: as atualizações do software do carro e respetivas funcionalidades são feitas over-the-air ou seja não é necessário ir à oficina para atualizar o software. No momento certo o seu carro é atualizado sem ser preciso fazer nada. O exemplo deste tipo de atualizações foram os recentes “modo cão” em que o fiel companheiro fica dentro do habitáculo mas com o ar condicionado a funcionar de modo adequado e o modo sentinela: visto de forma tradicional diríamos que é um alarme para o carro... com a particularidade de existirem pelo menos oito câmaras a gravar o que se passa à volta do carro para guardar os movimentos de quem toque a pintura ou tente abrir indevidamente o carro. Basta colocar um pen numa das entradas usb... e que no caso me esqueci de colocar para guardar esta viagem, pois também funciona como dashcam.
Pelo meio a Tesla passou à prática os famosos “Ovos de Páscoa” que periodicamente vêm com alguns jogos de computador: muitas vezes apenas coisas fora do comum que são mais para nos divertir do que para acrescentar alguma funcionalidade essencial: entre uma lareira a crepitar no ecrã, seis jogos da Atari daqueles à moda antiga, um conjunto de piadolas para divertir os ocupantes e o que mais a Tesla se vier a lembrar. E já que falamos em jogos, agora percebemos que aqueles dois botões no volante haviam de servir para alguma coisa...
Quanto a espaço, à frente bem amplo e regulável ou seja quem vai atrás também tem direito a fazer uma viagem de forma cómoda. Este é um carro que visto de frente até parece pequeno e “agachado” em resultado dos estudos de aerodinâmica, mas que visto de lado revela tudo o que tem la dentro para oferecer. A frente engana, o carro até é grande mas pode confirmar na galeria de fotografias que documentaram esta viagem.
E já que falamos em viagem, já chega de fascínio pelo interior e vamos lá conduzir. Um volante que se sente na mão e quanto a pedais apenas dois. É um “automático” com um pedal mais largo para travar e um outro que serve para acelerar e travar... sim, travar, mas já lá vamos às memórias da primeira experiência elétrica.
Feitas todas as regulações de condutor, o arranque faz-se de forma suave e nesta fase ainda um pouco a medo pois são mesmo mais de 400 cv disponíveis para andar e bem. Em andamento o carro transmite segurança e um excelente comportamento dinâmico faz que com facilidade se esteja além do limite legal pois o ruído é relativamente baixo por comparação com um carro com motorização convencional: apenas o ruído do rolamento em piso e alguns sinais da aerodinâmica que neste modelo está estudada ao detalhe.
Após ganhar alguma confiança com a condução do carro chegou um dos momentos muito esperados: nesta versão do Model 3 a Performance, enuncia que o carro consegue passar dos 0 aos 100 km em 3,4 segundos... e é mesmo verdade que se fica colado ao banco tal o ímpeto com que o carro se lança para a frente sem hesitar e de forma continuada. A primeira vez assusta e nas seguintes já ganhamos espaço para nos divertirmos com esta capacidade de aceleração muito útil em ultrapassagem ou em percursos se subida mais sinuosos.
Adicionalmente vem ainda o famoso conceito do e-pedal: na Tesla a energia de travagem é o melhor aproveitada possível para gerar energia que vai para a bateria repondo uma parte da autonomia. Quando se levanta o pé do acelerador o carro vai suavemente travando e nesta viagem só muito pontualmente foi necessário usar o pedal de travão.
Ainda em condução ficámos a saber que funções estão da manete do lado direito: com um toque ativa um cruise control simples e com dois toques passamos a andar com o famoso Autopilot, o sistema de condução altamente automatizada da Tesla. Disponível de base nesta versão ensaiada foi possível confirmar que a condução passa mesmo a ser mais descansada: o carro mantém-se no centro da faixa, reduz a velocidade quando deteta um carro em marcha mais lenta à frente e até muda de faixa usando a manete de pisca, caso não detete um outro carro na faixa para onde pretendemos ir. Nesta versão do software o condutor ainda tem que manter pelo menos uma mão no volante para garantir uma segurança adicional.
No nosso caso aproveitámos para escolher uma rota de viagem no mapa do carro e o software traça uma rota que sugere a paragem necessária para carregar a bateria e que no nosso caso aproveitámos para tomar um café e esticar as pernas ali por volta do supercharger em Montemor. Tendo decorrido sem problemas e com muito prazer num carro moderno, ecológico e virado para o futuro numa viagem de várias horas e barata em despesas, não fossem as portagens.
A chegada a Lisboa fez-se já pelo início de noite e ainda com mais de 200 km na indicação de autonomia do Model 3 Performance mesmo depois de muita velocidade pelas curvas da Arrábida.
No essencial, esta primeira vez num carro elétrico a sério fez-nos sorrir quando pensávamos nos carros elétricos da feira. O tempo agora é outro e gostámos.
autonews.pt @ 28-5-2019 21:26:51
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