Motorclássico 2023 mudou de casa – três dias de recordações em quatro, três e duas rodas
Nos dias 3 a 5 de março de 2023 Lisboa voltou a receber o Motorclássico – o evento, por excelência, dedicado a carros e motos antigas
andardemoto.pt @ 10-3-2023 22:23:33 - Texto: Daniela Azevedo
Após três (longos!) anos de interregno, o evento regressou à capital, mas para uma nova morada: deixou a FIL, que neste mesmo fim de semana recebeu a BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa – e mudou-se para a Cordoaria Nacional, ocupando todos os seus cinco pavilhões.
Neste regresso, o salão acolheu três grandes áreas temáticas: a exposição “Porsche – 75 anos de História”, a exposição “60 Anos do Mini Cooper S” e a exposição “Harley-Davidson – 120 anos sobre rodas”.
A Porsche fez as delícias de muitos visitantes, sendo uma das eternas marcas de luxo e objeto de desejo para todos os que valorizam a obra de Ferdinand Porsche que, desde os anos 30, começou a trabalhar em marca própria depois de ter feito parte das equipas da Mercedes e da Volkswagen. Nos anos 60 a marca já era conhecida pelos modelos desportivos, e consolidou-se com o lançamento do intemporal Porsche 911 – o Turbo foi o primeiro veículo a ter diagnóstico por computador de bordo em 1995. O antecessor do 911 foi o 356 B Roadster também aqui exposto num magnífico azul céu (até porque nestes modelos condutor e passageiros andam sempre a “céu aberto”).Carlos Cunha, da “Boutique dos Vintage Cars”, é um apaixonado pela marca e procura pôr os Porsche que lhes chegam “num estado lastimável” como se viessem de fábrica. Fazendo um balanço positivo à mudança do Motorclássico para a Cardoaria, Carlos Cunha apresentou ali um método diferente de decapagem: com bicarbonato de sódio. “Adquiri essa máquina há muitos anos; não existia em Portugal. Uma vez que o jato de areia deixou de ser permitido em Portugal, o bicarbonato que uso é o normal, que se compra na farmácia, projetado com bastante pressão sobre a chapa e quando entra em contacto com ela explode e liberta a tinta. É eficiente, não fere a chapa e não polui”, explica.
Em 1963 saiu o primeiro Mini Cooper S de fábrica depois de muita dedicação do engenheiro e projetista John Cooper, cuja equipa (Cooper) tinha sido bicampeã mundial de F1 em 1959 e 1960. O motor com maior capacidade tinha 76 cv de potência às 5600 rotações. Na história deste carro há vitórias e conquistas que foram lembradas nesta edição do Motorclássico.
A mais “velhinha” referência no salão deste ano, foi para a Harley Davidson que aguarda a chegada a Portugal da sua Anniversary Collection. Serão sete modelos de edição limitada e numerada (a chegarem ao nosso país dentro de mês e meio; não estavam no Motorclássico) que apresentam uma pintura e acabamentos comemorativos e funcionalidades premium que celebram 120 anos de uma história muito associada aos bad boys americanos.
A marca que nasceu em Milwaukee nunca deixou de produzir, desde 1903, embora nem sempre tenha estado “nas mãos” da família fundadora.
Francisco Tudela considera que a fidelidade dos “Harlistas” para com a HD é do “mais fascinante que há”, mas recorda também com carinho quando nos anos 80 a família original Davidson readquiriu a marca depois de tempos mais sombrios.
“A Harley é muito mais que uma mota; é um estilo de vida, é liberdade e aventura típicos de um espírito rebelde e que se podem desfrutar em cima de uma moto com imensa tradição”, refere Francisco Tudela, diretor de operações da Harley Davidson em Lisboa. Em junho vai haver um encontro nacional na Figueira da Foz e várias exposições comemorativas.
Continuado nas “motos”, por assim dizer, outro motor que despertou imensa curiosidade nestes três dias, até pelo espaço que ocupa e originalidade estética que apresenta, foi um triciclo Cudell de Dion, de 1898, sendo o veículo de combustão mais antigo em Portugal, em condições de circulação. Destronou um Peugeot de 1899 na obtenção deste título.
Construído pela Cudell & Co Motorenfahrzeug-Fabrik, em Aachen, na Alemanha, e com design licenciado De Dion-Bouton, este raro modelo em exibição com o número de quadro e de motor “532”, representa uma das primeiras formas de transporte motorizado.
As unidades motrizes do Engenheiro Bouton atingiam velocidades (50 Km’s/hora, imagine-se!) superiores às dos seus congéneres e contemporâneos Daimler e Benz, o que não deixa de ser motivo de orgulho para Isabel Cudell, especialista em Mobilidade Profissional e que transporta o icónico apelido da família consigo.
“Naquele tempo não era qualquer pessoa que podia ter um veículo destes, por isso, os que existiam eram feitos por encomenda e esta dupla motorizava muitos veículos nessa altura. Eles tanto punham o motor num triciclo, como numa bicicleta, como num automóvel”, refere Isabel Cudell.
Este modelo exibido no Motorclássico era de passeio, mas há imagens de época de veículos destes em contexto militar ou de outro tipo de trabalho, uma vez que havia poucos meios de locomoção e, portanto, serviam as necessidades que iam surgindo. O triciclo Cudell de Dion foi adquirido em leilão e esta foi a primeira vez que esteve em exibição em Portugal.Ainda nas motos, destaque para uma Casal 50.6 de 1981 com… 0 Km’s! Esta autêntica peça de museu, segundo a descrição que a acompanhava, nunca circulou, tinha todos materiais de origem, e pneus saídos da mítica fábrica da Casal (ainda serão seguros?). Lamentavelmente este exemplar tão catita permaneceu para venda até ao final da exposição.
A metalurgia Casal foi fundada em 1964 e foi a maior fábrica de motores nacionais. Apesar de hoje ser frequentemente alvo de associações jocosas, a Casal foi uma marca portuguesa que atingiu grande notoriedade, exportou para diversos países, e participou no World Grand Prix 80 cc. Guiada por Jan Huberts bateu o recorde do mundo de velocidade em 50 cc em 1984.
Tiago Cabeleira foi mais um dos protagonistas deste Motorclássico que chama a atenção pelo espírito aventureiro e inovador. Senão, que outro motivo o levaria a querer ir para o deserto ao volante de um clássico? Ainda por cima este é um Panda 4 X 2 e não o também muito marcante Panda 4 X 4. No stand dos Clássicos de Portugal encontrámo-lo ao lado Fiat Panda com que vai embarcar no Panda Rally juntamente com o copiloto Joaquim Nicolau.
“Escolhemos este carro de propósito. A ideia nasceu depois de uma compra por impulso; há nove meses que estamos a tratar dele, a desmontá-lo e andamos a fazer alguns testes. Estamos cheios de vontade de ir para o deserto com ele. Tudo no carro foi feito de novo, de uma ponta a outra. As peças são quase todas originais. Fizemos uma adaptação à suspensão para esta a gás, e subimos também o carro uns centímetros para fazer face a alguns obstáculos”, descreveu o piloto.
Embarcar nesta aventura no deserto ao volante de um Fiat Panda tem grandes vantagens: “é um carrinho que cabe em qualquer lado, é mais fácil de preparar. O segredo está no peso, não o podemos carregar muito, até porque temos o nosso próprio dia de campanha em que temos que tratar de tudo sozinhos, apesar de uma ótima e segura organização por detrás”.
Este Fiat Panda vai equipado com um protótipo, desenvolvido pela dupla, e que é um sistema de pressurização que permite encher e despejar os pneus em movimento. Além disso, a invenção sopra todas as areias e pós no final de cada etapa.
O Panda Raid realiza-se em Marrocos, de 28 de abril a 6 de maio, e será o 15.° Rally Raid Internacional, com três mil quilómetros em terra. “Tem que correr bem porque vamos e voltamos com o Panda a andar, não temos reboque de apoio!”, comenta, divertido, Tiago Cabeleira.Mas nem só de carros e motas se fez o Motorclássico de 2023. Com cerca de 160 expositores de material diverso, o público ainda pode assistir a leilões, um mercado de automobilia (no espaço que era conhecido como o Torreão), um cinema (perto de 45 filmes temáticos) e até a Art Village, uma área onde vários artistas apresentaram obras de arte relacionadas com o universo motorizado.
Um desses artistas foi o João Saldanha, da Fine Art, que pinta carros clássicos e antigos, embora a paixão tenha começado pela Fórmula 1. “Fiquei impressionado com a beleza e a estética dos próprios carros. Depois deixei-me envolver pela figura humana e já não consegui parar. Foi nos anos 80 que tomei contacto com Fórmula 1 e é dessa época que gosto”, revela-nos.
Já a Rute Coelho trouxe ao salão “O Meu Clássico”, projeto que começou ajudada por um colecionador que desafiou a artista a desenhar a sua coleção de carros: “os automóveis, tal como as pessoas, também têm personalidade, espírito e charme que têm que passar para os desenhos”. O projeto começou há cerca de uma década e foi tendo alguns modelos mais desafiantes de recriar. Rute Coelho também aproveita cartazes de rua para trabalhar, compondo novas imagens na tela com outras texturas. “Normalmente os automóveis novos são muito limpinhos, muito certinhos e brilhantes e eu gosto de outro twist”, remata a artista.
Rita Valentim e Tiago Anágua são os rostos da Cool Garage, que existe há cerca de cinco anos, a pensar nos acessórios para riders – luvas, casacos e capacetes em estilo cafe racer e vintage. Futuramente, o conceito passa por alargar este produto português também aos automobilistas de clássicos. Sobre a experiência no Motorclássico ambos fazem um balanço “positivo e motivador”.
O UMM, também nacional, foi igualmente recordado pelos seus 40 após uma participação no Dakar.Outra das novidades foi a criação de um Parque de Clássicos gratuito, junto do Museu Nacional dos Coches, que permitiu, a mais de 600 proprietários de automóveis clássicos, estacionar de forma segura e próxima do evento, criando um “museu a céu aberto” e promovendo a partilha dos automóveis clássicos com o público.
Salvador Patrício Gouveia, presidente da Direção do Museu do Caramulo, que organiza o evento, reconhece que a mudança de localização tem a ver com o quanto o mundo também mudou: “tivemos muito público estrangeiro e muitos expositores. Estar nesta zona de Belém também contribui para atrair mais estrangeiros do que na FIL. Mas também temos milhares de estrangeiros a viver cá em Portugal e muitos deles com automóveis clássicos.
Nestes três dias houve cinco parques de estacionamento há disposição, além do parque de clássicos gratuito “a cinco minutos do salão”.
As Motor Talks com o Eng. José Barros Rodrigues e José Correia Guedes, também bastante frequentadas, foram o resultado do trabalho conjunto do Museu do Caramulo e do Jornal dos Clássicos.
Este evento tinha de passar num teste de aprovação final, que “passou com distinção”, por isso, está confirmado o regresso do Motorclássico em 2024, apesar dos vários aspetos que Salvador Patrício Gouveia ainda considera que têm de ser melhorados.Veja a galeria de fotos em baixo.
andardemoto.pt @ 10-3-2023 22:23:33 - Texto: Daniela Azevedo
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